Pe. Feliciano Yague nasceu em Calatuyud. De uma família profundamente cristã, herdou de seus pais os princípios salutares da nossa sacrossanta religião, que recebidos num terreno fértil produziram efeitos copiosos de virtude.
A sua Primeira Eucaristia foi data marcante para a sua alma inocente, que se entregou a Jesus, para lhe pertencer para sempre. Quem sabe se, neste mesmo dia, brotou em seu coração o desejo de se consagrar para sempre a Deus na vida religiosa! Chamou às portas do nosso Colégio de Alagão onde fez os anos de latinidade de 1895 a 1897. Em 1897, passou para o Noviciado de Cervera e aí fez a sua Profissão Perpétua, em 27 de agosto de 1898, consagrando-se a Deus e ao Puríssimo Coração de Maria.
No dia 1º de julho de 1906, subiu aos degraus do santo altar pela ordenação Sacerdotal. Após a Ordenação Sacerdotal recebeu o seu destino para o Brasil e exerceu seu apostolado desde sua chegada em terras de Santa Cruz. O seu campo de trabalho ministerial, em diferentes etapas foram São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Santos, Porto Alegre, Bahia, Belo Horizonte e Pouso Alegre, praticamente em todas as casas da Província Brasileira do tempo.
A estereotipia moral de nosso irmão está traduzida nestas palavras: “Foi em religioso exemplar e amante da Congregação e um padre, sacerdote e missionário zeloso e dinâmico”.
Amante apaixonado das tradições da nossa Congregação, através da observância religiosa, em forma alguma consentia fossem desprezadas. Com o seu exemplo procurou influir para que os Filhos do grande apóstolo Claret não se afastassem do caminho retilíneo por ele delineado. O Pe. Feliciano era fidelíssimo no cumprimento do horário doméstico da comunidade. Era difícil faltar a alguns de seus atos. Doente embora, arrastava-se até à capela e ao refeitório, para tomar parte nos atos da vida comum.
Era piedoso de verdade. Esta piedade manifestava-se, sobretudo, na celebração do Santo Sacrifício da Missa sempre com muito fervor e na prática das devoções particulares à Mãe Santíssima, ao Sagrado Coração de Jesus e a São José, que nunca omitia.
Além de religioso exemplar, observante das Constituições, foi sacerdote zeloso e trabalhador. Quanto ao primeiro item, prova-o o ter sido escolhido para o cargo de Superior em três de nossas comunidades. Como testemunho do seu zelo apostólico, foi sua ação nas Paróquias de Santos, Ribeirão Preto e Carangola. Onde, porém, desenvolveu mais o seu zelo apostólico foi no campo da pregação evangélica. Exerceu esse mister sagrado, de semeador da divina palavra, com bastante eficácia e com muita aceitação das pessoas a quem dirigia.
O Pe. Feliciano Yague apresentou folha meritíssima de ministério, quando da sua estadia em Porto Alegre. Percorreu todo o estado do Rio Grande do Sul, em visitas pastorais, pregações, novenas e conferências, quer na capital, quer no interior do Estado. Dirigiu retiros a incontáveis comunidades de religiosos e religiosas. Aquela época foram os anos de ouro do Pe. Feliciano. Assim o fez em todas as casas, em que residiu, tendo sempre em vista o ideal sublime da glória de Deus e de conquistar-lhe almas.
Esse trabalho constante abalou a saúde do Pe. Feliciano. Em Carangola, apareceram os primeiros sintomas perniciosos da “diabetes”, que nunca mais o abandonou. Uma ferida na perna o fez sofrer, por muito tempo, sem se conseguir cicatrizá-la. Transferido para Pouso Alegre, continuou com os mesmos efeitos da terrível doença que o levou ao sepulcro. Internou-se diferentes vezes na Santa Casa local, sendo levado de avião para São Paulo, tratado no Hospital Santa Catarina, conseguiu reagir. Voltou à sua residência e continuou os seus ministérios, na medida das forças físicas.
Em janeiro de 1955, recrudescendo a doença, após ser internado na Santa Casa de Pouso Alegre, declarou-se uma gangrena, que culminou num ataque de uremia, ao qual o padre doente não pode resistir. 31 de março! Em quarto particular da Santa Casa, rodeado dos seus irmãos de hábito, sua alma sofredora entra em luta violenta com a resistência física, a fim de voar para o céu. Passados uns poucos minutos da meia-noite, com a consciência nítida, o Pe. Feliciano beija com amor o crucifixo e com a tranqüilidade dos justos entrega a sua alma ao Criador, nos primeiros minutos de 1º de abril.
A notícia corre veloz e algumas almas generosas rumam para Santa Casa a fim de partilharem do luto dos Missionários. Chegando o cadáver em casa em profundo silêncio, o Pe. Superior dá início à Missa de Corpo Presente. Segue-se a visita dos fiéis. Às 8h é celebrada a Missa Funeral, por Dom Oscar, Bispo Coadjutor da Diocese, com a presença de Dom Otávio Chagas de Miranda, Bispo Titular. O préstito é imponente, presidido pelo Bispo Coadjutor. Compareceram o Colégio das Madres Dorotéias, de São José, de Jesus Crucificado, Orfanato, Seminário, Postulantado dos Padres Claretianos e Associações do Santuário.
O percurso da igreja ao cemitério é feito a pé, entre salmos e rezas piedosas. À beira do túmulo fala, com sentimento, o Dr. Geraldo Clemente de Andrade. São feitas as últimas cerimônias e a multidão se retira em profundo silêncio.