A celebração de Santo Antônio Maria Claret no contexto do Ano Jubilar e dos 130 anos da chegada dos primeiros claretianos ao Brasil nos convida a contemplar a esperança como uma virtude que sustenta e fortalece a dimensão missionária da nossa vocação. A vida de Claret foi um itinerário de confiança constante em Deus, com passos firmes que se traduziam em esperança viva.
Embora não tenha escrito extensivamente sobre a esperança, Claret respirou-a em cada instante. Nos trechos em que fala de esperança, transforma-a em oração, dando-nos a entender que se trata, antes de tudo, de uma virtude para ser rezada. Desde os primeiros passos da sua vocação, encontramos lampejos de esperança que o acompanham ao longo da vida:
“Humanamente não vejo nenhuma esperança, porém Vós sois tão poderoso que, se quiserdes, arranjareis tudo. Lembro-me de que, com toda confiança, me abandonei em vossas divinas mãos, esperando que dispusésseis o que deveria ser feito. E assim foi” (Aut 40). Esta é uma prece de quem se entrega inteiro ao Pai, com a serenidade dos que confiam, mesmo diante de um horizonte de incertezas.
Em seu noviciado, Claret nos deixa outra preciosidade espiritual: “Ó Maria, minha Mãe e minha esperança, consolo de minha alma e objeto de meu amor” (Aut 162). Nela reconhece a companheira fiel que o ampara e o conduz. Mais tarde, sua esperança torna-se também clamor amoroso: “Ó meu Senhor, Vós sois meu amor! Vós sois minha honra, minha esperança, meu refúgio!” (Aut 444, 754). Em sua confissão mais íntima, reconhece que ainda há um caminho a percorrer: “Creio, Senhor, porém que eu creia com mais firmeza. Espero, porém que espere com mais segurança” (Aut 655). Por fim, no coração do missionário amadurecido, ela se faz intercessão confiante: “Tem misericórdia de nós, pois em Ti depositamos nossa esperança. Em Ti, Senhor, esperei, nunca serei decepcionado” (Aut 661).
Essa confiança foi a bússola que guiou Antônio Maria Claret em cada passo de sua jornada. Da vocação vacilante em Sallent ao nascimento da Congregação, pequena como um grão de mostarda, mas fecunda pela promessa de Deus. Foi essa mesma esperança que atravessou oceanos e desembarcou com os primeiros missionários no Porto de Santos no findar do século 19, que se espalhou na geografia do extenso Brasil ao longo do século 20 e, desde o Brasil, lançou novas sementes em Moçambique no alvorecer do século 21. A nossa história testemunha que os missionários que beberam da fonte do carisma de Santo Antônio Maria Claret, tornaram a Congregação, nascida do Coração de Maria, sua própria missão de vida.
A esperança de Claret não era ingênua: era um fogo purificador. Nos tempos de revolução, exílio e calúnia, manteve viva a chama da confiança. Acreditava que Deus escreve a história mesmo entre as adversidades, que cada provação pode tornar-se semente, e que a força do Evangelho floresce em terrenos áridos, como testemunha em seus escritos com notas marcadas pelo sofrimento, mas regadas de esperança. A própria Congregação confirmou essa esperança padecente ao longo do tempo com a fidelidade dos que entregaram o seu sangue por Cristo e pelo seu Evangelho.
É esse fio de esperança que recebemos do nosso patrimônio espiritual que hoje somos chamados a testemunhar: uma esperança que não se limita a esperar, mas se compromete com o Reino; que se faz palavra, gesto e presença; que sustenta os corações cansados, que se recusa a ceder ao desânimo e se torna farol aceso pelo fogo do divino amor. Nada e ninguém detém a força da esperança que nos impele a anunciar o amor de Deus.
A mesma esperança que moldou a vida do Padre Claret e impulsionou os primeiros missionários continua viva em nós, por uma entrega filial ao Coração de Maria para que Deus seja conhecido, servido, amado e louvado.
Que este jubileu nos encontre firmes nessa esperança inquieta, que caminha, ora, trabalha e ama. Que sejamos, como Claret, testemunhas da confiança em Deus, capazes de transformar cada estrada e cada encontro em anúncio vivo da salvação. Que Maria, Mãe da esperança, nos ensine a esperar com o coração ardente, atentos aos sinais de Deus e perseverantes na missão.
Pe. Eguione Nogueira Ricardo, CMF
Superior Provincial
São Paulo, 24 de outubro de 2025



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