O Pe. Berenguer nasceu em Horta, Barcelona, em 19 de julho de 1882. A semente da piedade, que seus pais lhe depositaram no coração inocente, germinou viçosa e promissora, dando azo a que bem cedo se manifestasse nele a chama ardorosa do amor divino, que fortemente o atrairia para o estado sacerdotal.
Com 12 anos de idade, iniciou seus estudos de latim no Seminário Conciliar de Vic, em cujo seio se formaram espíritos de escol, como Jaime Balmes, célebre filósofo e Santo Antônio Maria Claret. A convivência com os Missionários Claretianos e as amiudadas visitas ao sepulcro do grande Patriarca e Fundador dos Missionários, cativaram a sua alma. Criou grande simpatia pelo Instituto, em cujas fileiras havia de se perfilar mais tarde na qualidade de soldado dos mais fervorosos e destemidos.
Parecia-lhe que a Rainha do Céu, com olhar meigo, dizia com voz suavíssima: “Vem, meu filho e entra no meu Coração” e não hesitou em se consagrar ao serviço do Senhor e do Puríssimo Coração de Maria.
A 02 de agosto de 1897, despedindo-se do lar paterno, onde deixava as afeições que só ao amor de Jesus se podem sacrificar, chamava às portas do Colégio de Alagón, onde permaneceu um só ano. De Alagón passou para a Universidade de Cervera, onde fez o noviciado, professando a 26 de agosto de 1899, nas mãos do Revmo. Pe. José Xifré, Segundo Superior Geral da Congregação. Nesta Universidade completou seus estudos filosóficos e teológicos e mais as Ciências Eclesiásticas. Terminada a sua formação moral e intelectual, a 28 de abril de 1907, ordenou-se sacerdote nas mãos do Exmo. Sr. Dom Armengol Coll, Bispo de Tignica e Vigário Apostólico de Fernando Póo. Pensou em honrar a dignidade sacerdotal e empregá-la para glorificar a Jesus e salvar as almas, como manifestara aos superiores, exercendo o apostolado entre os infiéis. Outros, porém foram os rumos que lhe traçou a divina Providência.
Foi escolhido para fazer parte de uma Expedição de Missionários ao Brasil e quando completava um ano de sua ordenação, partiu com os seus companheiros para Lisboa, onde embarcou no navio inglês “Avon”, chegando em São Paulo em 19 de maio de 1908. Após 10 dias de descanso partiu para Porto Alegre, seu primeiro destino, no Brasil.
Nesta primeira ocasião de 1908 até 1910, que esteve em Porto Alegre, como na segunda etapa de 1912 até 1918, empregou-se no seu sonho dourado, a pregação do Evangelho. E esta pregação se expandia mais nas visitas pastorais, em que, como auxiliar de visita, Pe. Berenguer acompanhava aos Senhores Bispos. Dedicava-se no árduo ministério das confissões, ensinar o catecismo às crianças e servindo ao mesmo tempo de Secretário dos Prelados, suprindo assim, as deficiências dos párocos. Algumas dessas visitas, como a que fez acompanhando a D. João Pimenta, atingiram o número de 25.000 crismas, percorrendo grande quantidade de cidades do estado sulino, chagando até Sete Povos das Missões, que faziam parte das famosas Reduções Jesuíticas do Paraguai. Na região de Palmeira, Pe. Berenguer trabalhou entre índios com uma extensa população muito espalhada.
Em 1910 foi destinado à Casa de São Paulo, onde se dedicou à pregação, percorrendo o Sul do estado em visitas pastorais com o apostólico Bispo de Botucatu, Dom Lúcio Antunes de Souza.
Em 1911, com 29 anos apenas, foi escolhido para Superior de Belo Horizonte. Iniciou seus trabalhos na pequena Capela de Nossa Senhora de Lourdes, hoje transformada na esbelta Igreja de estilo gótico, rica em arte e piedade, na capital mineira.
Em 1919 foi nomeado Superior da Comunidade da Bahia, instalando-se no velho convento franciscano da Boa Viagem, capital baiana. Aí Pe. Berenguer passou cinco anos, gozando da confiança do Prelado, da estima dos irmãos de hábito e do povo. Chamado para formar parte do Primeiro Conselho Provincial da Novel Província Brasileira, trasladou-se para São Paulo em 11 de março de 1924. Em São Paulo desempenhou o cargo de Superior local, por três anos. Muito trabalhou na remodelação do Santuário em reformas. Entre as satisfações que experimentou, pelos triunfos conseguidos, não lhe faltaram dissabores amargos… São provações que Deus faz aparecer no caminho dos justos para lhes purificar as almas… Mesmo membro do Conselho Provincial, regentou a Casa de Campinas, como Superior e terminado o sexênio de Conselho Provincial, voltou de novo à Casa da Bahia, residindo, então noutra Casa a da Rua Democrata.
Voltou da Bahia para integrar, como Superior, a Comunidade do Rio de Janeiro. Também ali a Divina Providência o esperava com uma grande provação, talvez a mais dolorosa de sua vida, pelo que se deduz da sua correspondência íntima, Pe. Berenguer sobrepujou tudo, perdoou e procurou esquecer, embora profundo sentimento lhe fizesse sangrar o coração.
Do Rio, passou para Rio Claro, também na missão de Superior. Aqui, no desempenho de seu cargo, veio agravar-se a diabete de que era portador. Essa doença é sempre assim, de uma feridinha sem importância, ao parecer sem consequências, nasceu a causa de uma gangrena alarmante no pé direito. Trasladou-se à Casa de São Paulo onde, com urgência, se tomaram as providências para salvar a vida ameaçada do Pe. Berenguer. Foi necessário a amputação da perna, o que se fez, conseguindo antes, seu pleno consentimento. A operação e consequências, foram-lhe um verdadeiro calvário de sofrimentos. Foi necessário colocar-lhe um aparelho ortopédico, que lhe permitia locomover-se, embora com relativa dificuldade.
Mesmo assim, celebrava diariamente a Santa Missa, pregava a palavra divina e ouvia confissões, desempenhando até o cargo de sacristão na Casa de Campinas, que foi a sua última residência. E assim passou os últimos anos de sua vida, consagrando-a para a grande viagem.
Ao cair da tarde do dia 9 de março, Pe. Berenguer que passou o dia sem novidade, após o jantar, dirigiu-se contente para o seu lugar de trabalho: o confessionário. Uma criança foi o seu último penitente. Colhido por violento colapso cardíaco, caiu sem sentidos no confessionário donde foi retirado para receber os primeiros cuidados médicos. Para os facultativos, era um caso desesperador. No entanto, conseguiu recuperar os sentidos e a razão. O bom Pe. Berenguer aproveitou para receber, com grande piedade, os Santos Sacramentos.
Entre as angústias da morte e sem possibilidade de reação do seu organismo, atravessou aquela intérmina noite de sábado, findo, emoldurado de crepe.
Na madrugada do dia 10 de março, desligou-se dos laços que o uniam à matéria e a alma do Pe. Berenguer alçou voo para a Pátria onde o sofrimento não existe mais.
Tombou mais um valente. Um dedicado Filho do Imaculado Coração de Maria. Um sacerdote zeloso da glória de Deus e da salvação das almas.